Lunna do blog: Acqua
Quando recebi o convite para participar dessa blogagem, não sabia bem o que escrever - lembrei-me imediatamente da Patrícia, uma mulher que participa de um Programa Social que oferece ajuda psicológica através de terapias semanais. Conversei com ela sobre minha intenção de entrevistá-la e de imediato ouvi um sonoro “não”. Mas nesta última segunda-feira, ela veio falar comigo e disse-me que depois de pensar melhor resolver responder as perguntas sobre o tema:
Patrícia tem 36 anos, mora em São Paulo há quase vinte anos. Sua história de vida mostra o quanto delicada é a questão da adoção. Nas aulas de psicologia ouvi professores dizendo que toda criança adotada deveria ser submetida a terapia, pois um dos fatores complicativos é a não compreensão da questão “abandono” por parte dos pais biológicos. “É algo que você pode perceber observando as reações da criança ainda na primeira infância e essas reações podem se tornar mais complicativas a partir da puberdade”.
Uma outra questão muito delicada é a decisão quanto a contar ou não a criança que ela foi adotada… Há especialistas que defendem que não se deve contar a criança - enquanto outros defendem com veemência que a verdade deve ser contada a partir do momento que a criança tenha consciência suficiente para entender tal fato.
No caso de Patrícia, a família que a adotou, optou por não contar a ela a verdade - contudo, aos treze anos de idade ela acabou descobrindo que tinha sido adotada:
Eu fiquei sabendo que era adotada aos treze anos, na festa de casamento da sobrinha da mulher que me adotou. Eu havia brigado com ela, nada sério, brigas entre mãe e filha. Ela queria que eu fizesse medicina e eu nem sabia se queria fazer faculdade. A gente chegou na festa sem falar uma com a outra e isso irritou a irmã dela que me disse “é um absurdo você tratar sua mãe desse jeito, ela salvou a sua vida. Se ela não tivesse te adotado você poderia estar nas ruas, sozinha, sem um lar”.
Como se sentiu quando soube sobre sua adoção?
Não sei direito. Foi muito confuso porque esclareceu algumas coisas que eu sentia e não falava pra ninguém, sabe? Eu me sentia estranha naquela família. Tinha dias que eu acordava e dizia pra mim mesma “eu não faço parte disso aqui”. E ficava triste, chorava no meu quarto, mas achava que era coisa da idade. Eu era muito nova. Mas quando soube a verdade, eu entendi aqueles sentimentos todos.
O que mais te incomodou quando soube a verdade?
Foi tentar imaginar porque meus pais tinham me abandonado. Eu queria saber como eles eram, se eu era parecida com eles. Se eles pensavam em mim. Se a minha mãe se arrependia de ter me dado pra outra pessoa. Tinha muita coisa na minha cabeça.
Como lidou com essa nova realidade?
Foi difícil. Eu queria conhecer meus pais verdadeiros e eles não queriam que eu fizesse isso, então depois de um tempo eu fugi de casa e vim para São Paulo.
Patrícia veio para São Paulo com apenas dezesseis anos. Nunca tinha estado aqui antes. Morava em Mococa, uma cidade do interior de São Paulo.
Seus pais adotivos te ajudaram com informações?
Não muito, só me disseram que eu tinha nascido aqui em São Paulo e que uma mulher chamada Heloísa tinha me entregado pra eles. Pelo que eu entendi, essa mulher fazia isso sempre. Ela pegava crianças que os pais não queriam e encontravam casais pra adotá-los.
Depois de oito anos você conseguiu saber o nome dos seus pais biológicos e foi ao encontro deles. Como foi esse momento pra você?
Eu fiquei com medo, muito medo mesmo. Levei mais de uma semana para conseguir ir até onde eles moravam. Eu fiquei muito nervosa. Quando eu cheguei na casa deles comecei a rir de nervoso. Foi a assistente social que me acompanhou quem falou a mulher que morava na casa. Ela era irmã da minha mãe e foi ela quem disse que minha mãe tinha morrido já fazia sete anos. Ela nem sabia que a irmã tinha tido uma filha. Foi um pouco esquisito, sabe? Mesmo assim, ela foi bem legal comigo, me mostrou fotos da minha mãe e algumas do meu pai e foi só.
Como é o seu contato com as pessoas que te adotaram?
Eu nunca mais falei com eles depois que eu fugi de casa.
Como você a questão da adoção?
Não sei direito, acho que é importante dar um lar pra crianças que são abandonadas, mas acho que deveria ter um programa social que tratasse o assunto de uma outra forma. Porque é muito difícil você saber que foi abandonada pelas pessoas que tiveram você e não importa qual seja o motivo, isso fica em você. Eu gosto de sexo, todo mundo sabe que é bom, mas acho que todo mundo precisava ter consciência que transar com alguém pode resultar num filho e um filho é uma pessoa que tem sentimentos, pensa, fala, precisa de carinho, de amor, essas coisas todas, sabe? Eu fico muito brava quando vejo que a igreja é contra métodos anticoncepcionais, aborto e formas de evitar uma gravidez. Só se pensa na questão de tirar uma vida, mas do que adianta alguém te dar uma vida e não se responsabilizar por ela?
Eu não penso em ter filhos, nem penso em me casar. As vezes eu penso nessas coisas todas que me aconteceram e eu quero esquecer de tudo isso. Eu ainda choro muito, depois passa. Mas acho que eu sinto falta mesmo é de uma resposta, de saber porque minha mãe me abandonou.
E você o que pensa a respeito? Acha que a verdade deve ou não ser dita a uma criança que foi adotada?
Essa postagem faz parte da Blogagem Coletiva Adoção, um ato de nobreza - promovida pelos blogs Saia Justa e Chega Mais.
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