sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Adocao, um ato de nobreza!


Nina do blog: Entre mae e filha


Não preciso falar que tenho uma visão romantizada da vida. Quem me conhece sabe que acredito na educação, na bondade, na simplicidade, no amor e nas pessoas. Sei que muita coisa acontece neste mundo contrariando minhas crenças, e cada vez que vejo tal realidade, sinto que um pedaço de mim, da pessoa sonhadora que vive em mim, morre um pouco.

Já ouvi gente dizer que sou cega pra certas coisas, ingênua, até. Mas creio que uma certa ingenuidade foi o que me manteve em muitos momentos da vida, de pé e alerta. Se eu me permitisse me corromper pelas amarguras da vida, viraria um ser humano seco...

Se ser ingênuo fizer meu mundo ser um pouco mais alegre e limpo, quero ser pra sempre uma eterna criança.

Porque acredito na infância!
Porque sou uma mãe que enxerga o poder do amor na educação dos nossos filhos, porque acredito na base! Creio que mesmo que um dia nossos filhos desvirtuem-se do bom caminho que tentamos traçar pra eles desde seu nascimento, os ensinamentos que demos a eles ficarão gravados num cantinho do coracão, das lembranças. E será essa base que os trará de volta quando e se, fizer necessário.

Muito do que nos transformamos hoje (de mal) creio, é resquício do amor, atenção, limites e cuidados que nos foram negados na infância. Do amor que muitos de nós deixamos de receber.

Basta com um olhar um pouco mais atento observar o que vemos nas ruas do nosso país: crianças que roubam, que se transformam em delinquentes, pais que exploram seus pequenos filhos, colocando-os nas esquinas da vida sem seu real entendimento do que aquilo representa, empurrados para o trânsito pra vender algo, empurrados para a vida sem seguranca fora de casa, sujeitos a perder muito mais do que a infância. Dignidade. Meninos que se drogam, meninas que se prostituem, que mentem, que participam de pequenos assaltos, pequenos delinquentes que não são pegos, que não vão pra escola, que têm uma mão sendo passada por sobre sua cabeça ou surrados violentamente por pais nervosos e tão culpados quanto eles próprios, crianças que têm filhos pela rua, de outros meninos e meninas perdidos, filhos que serão abandonados em orfanatos, em sacos de lixo, em lagoas pelas cidades...

O que esperar de uma sociedade que não enxerga essas feridas abertas?
O que esperar de um país que nega os direitos mais básicos a seus habitantes?
O que esperar do futuro de uma pessoa com tal histórico de vida? Apenas a continuidade dos mesmos dramas passados??

Há quem tenha medo de adotar.
Muitos acreditam que o fator genético é mais forte do que o que tentamos ensinar.

Ora, uma pessoa não é feita apenas de genes. Ela é também feita de pedaços de vida que são adicionados a ela pelo caminho.
Base na infância. Educação. Carinho. Limites na medida certa. Sensação de segurança. Alimentação. Amor. Atenção. Cuidado. São alguns desses pedacinhos.

É possível mudar o rumo de alguém predestinado a uma realidade dura, fria e cruel.

Problemas no futuro, todos estamos sujeitos a enfrentar. Os meus filhos de sangue podem ser tão problemáticos para mim quanto um filho adotivo. Ou mais!

Dizer que a adoção pode trazer problemas a uma família é reduzir algo tão complexo a um único fato, a talvez uma exceção aqui outra ali. Reduzir tudo a uma questão genética é fácil, simples e preconceituoso demais.

O que é melhor pra uma sociedade mais saudável? Orfanatos e Febens da vida, cheios de crianças sem carinho, sem amor, sem passado e sem futuro, ou uma família, uma casa, um teto seguro, amor, carinho e atenção?

O problema, acredito eu, não é a criança que é adotada, mas os pais que a adotam!

Saber que filho precisa além de amor, também respeito e limites, é primordial! Em qualquer situacão. Muitos pais adotivos erram porque dão demais a seus filhos e esquecem que educar é mais que dar algo material, é muito mais que encher a meninada de presentes e guloseimas, é amar e respeitar, é também impor limites.

Porque criança sem limite cresce pensando que é o senhor do mundo e que pode obter tudo o que deseja, quando deseja e como deseja.

E nesse sentido, nenhum de nós está imune, somos todos possíveis vítimas, tanto os filhos de sangue quanto os adotivos, o diferencial vai ser nós, os pais, a sociedade, assumirmos as sequelas que estamos deixando para o mundo.

Quem somos nós como pais na verdade? Qual a minha qualidade como pai e mãe dos meus filhos, adotivos ou não??! O que eu quero mudar na sociedade?? Tento mostrar aos meus filhos aquilo que acredito ou sou apenas um mero coadjuvante da vida que gostaria de ter?? Fico na expectativa de um mundo melhor enquanto reclamo comodamente do vizinho, da escola, do governo, ou arregaço as minhas mangas e vou à luta levando o meu filho pela mão? Dentro de casa o meu mundo é o que é fora dela?? Como meu filho me vê? Quem sou eu como pai? Como mãe? Como cidadão?

Questões como essas deveriam ser repensadas antes de se ter um filho! Antes de se adotar um filho! Mais do que ter medo do que uma adoção pode trazer, a questão aqui é saber quem sou eu, e como poderei ajudar a melhorar o mundo a minha volta.

A verdade é que existe adulto carente de afeto. E tanta crianca também... porque não unir as necessidades e se permitir um pouco de alegria, de amor, de sensibilidade? De quebra, ainda se dá uma melhorada no nosso mundinho...

Eu acredito, eu acredito, com todas as minhas forças, na infância!

"...Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

...Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem".

Thiago de Mello
Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)