quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Adocao, um ato de nobreza!


Sahr Rubia do blog: Os Pensamentos de Eu e Ela


" Li no blog do Adão, visitei o blog Saia Justa e decidi participar.



Bruna com 3 anos

Quando tinha 14 anos, numa dessas andanças de adolescentes, me apaixonei por um bebê, foi amor a primeira vista. Minha primeira reação foi de proporciona-la o bem estar, dias depois estava eu me oferecendo pra cuidar do bebê de graça para que a mãe pudesse trabalhar, não precisa nem dizer que se tornou o xodó da casa em poucos minutos, logo tratamos de arrumar-lhe roupas adequadas, alimentação de acordo com a idade que tinha(pouco mais de 6 meses), tudo aquilo que se faz com um bebê esperado. A noite a mãe vinha busca-la, era triste essa hora, mas com o tempo ela foi ficando, foi ficando, até que a mãe não vinha mais.

Uns meses depois, ela apareceu e levou a nossa menina, e pior entregou para que outra pessoa a criasse, foi horrível, passaram-se mais alguns meses e soubemos a pessoa havia devolvido e ela não sabia o que fazer com a menina, lembro-me como se fosse hoje, devia ser umas 2 horas da tarde de um sábado, cheguei em casa com a certeza de minha mãe faria isso por nós, se adentrar num território perigoso da baixada fluminense para buscar nossa menina, sempre fui pirracenta, quando eu acredito que o que eu quero é o certo pra mim não existem barreiras, na época eu era apenas um adolescente, estudante, mas meu irmão trabalhava, foi fácil convence-lo a arcar com a despesas e ele cumpre a palavra até hoje, caso seja necessário lá está ele.

Parecia uma operação policial, tínhamos pouco tempo antes do anoitecer(onde ela estava não podia ficar com a menina), lá é mais ou menos uma zona de guerra, depois que o sol se põe estranhos não são bem vindos, e conseguimos, passamos bons anos sem ouvir falar da genitora da Bruna, esse foi o nome que ela deu a filha, mas precisávamos dela, a menina não tinha certidão de nascimento, nem viajar podíamos com ela. A mãe se negou a entregar o registro de nascimento e nada mais tínhamos do que um cartão de vacina, nossos cuidados eram dobrados, afinal, perante a lei ela não existia.

Eu não podia adota-la por conta de um paragrafo da lei de adoção, a diferença de idade deve ser de no mínimo 16 anos entre o adotado e quem vai adotar. Soube de um cartório que faria o registro em meu nome mesmo sem a declaração de nascido vivo, lá pelas bandas do subúrbio, era só molhar a mão da escrivã, não, a nossa não era essa, queríamos garantia de que nada fosse revertido mais tarde, além do mais, estaria cometendo um crime.

E assim seguimos, com bons contatos conseguimos que ela estudasse, mesmo sem documento algum, orientados por advogados, deveriamos esperar até que completasse 12 anos para entrar com o pedido de adoção, antes disso estávamos a mercê da visão pessoal de um juiz, ele poderia determinar que não tínhamos condições para adota-la.
Resolvemos esperar, entre ameaças e chantagens por conta da mãe biológica, que exigia dinheiro para fornecer o que era direito da menina.


Quando finalmente chegou a hora, tivemos a sorte de ter como juiz da vara de infância e juventude o excepcional Siro Darlan, que nem exigiu a liberação da mãe biológica para a adoção, já que ela tinha deixado a menina conosco e arcávamos com todas as despesas e educação fazia tempo.


Devido muitos contratempos minha mãe resolveu assumir a maternidade da Bruna, ela foi criada como minha irmã, toda a documentação foi feita no nome da minha mãe e do marido dela.

Mas não deixei de sofrer com a gravidez precoce dela, não deixei de sentir aquela leve depressão de quando os filhos saem de casa, é... hoje ela tem a família dela. Eu tentei fazê-la mudar de ideia, esperar um pouco mais, se estruturar mais, mas os filhos crescem e não podemos continuar a decidir por eles. Ela também teve seus faniquitos nas vezes que eu engravidei, tinha medo de que eu tivesse outra menina.

Sinto orgulho da Bruna, as vezes até esqueço que ela não tem o mesmo sangue que o meu, quando o filho dela nasceu, me peguei procurando semelhanças conosco, dãnnnn...
Tenho planos de adotar um outra menina, sempre digo, quando o Igor completar 10 anos...
Não sei se vai ser exatamente nessa época, pode ser antes ou depois, estou aberta a escolha de alguma menina, é... porque acredito que nos casos de adoção somos escolhidos, a criança nos sorri e explode o amor, somos fisgados irreversivelmente.
A decisão foi tomada quando soube que teria outro menino, não queria mais filhos nascido do meu útero, quero filhas nascidas do coração.

Lembrando sempre que: "Toda criança tem o direito de saber sobre sua origem."
Nada de tentar substituir pais biológicos, nada de não responder perguntas, Ser pai ou mãe adotivos é uma relação diferente, baseada no amor e na confiança.

A quem tem duvidas sobre adotar ou não, eu sempre respondo, não existe diferença entre filhos adotivos ou biológicos a não ser que o coração esteja repleto de preconceitos.

O Adão faz uma referencia a herança, “não gostaria em nenhuma hipótese dividir os bens da família com uma criança adotada, que teria os mesmos direitos aos bens que os filhos dela!”, não é a opinião dele.
A Bruna tem os mesmos direitos hereditários sobre os bens da minha mãe que nós, na herança do meu pai, tratamos de reserva-lhe uma parte já que legalmente não faz parte do inventario, nunca existiu duvidas sobre isso.


Adoção é mais que um ato de nobreza, adoção é amor a primeira vista.
Esteja aberto a esse amor e quando ele pintar de-lhe uma chance, mas você pode ter que lutar por ele.


PS:
Algumas pessoas ainda acham que a Bruna é filha de um de nós 3 (filhos biológicos) e que minha mãe escondeu isso da sociedade, tudo por conta do carinho que dedicamos a ela. Quando alguém me pergunta isso, eu sorrio e digo, "Ela é filha do coração."
De todos os filhos da minha mãe, e entre todos os irmãos ela é a mais mimada.


PS 2:
Tentamos proporcionar a mãe condições de criar a filha, mas houve resitencia por parte dela, hoje tem mais de 10 filhos, só 2 ou 3 criados por ela.

Beijos,
Sarah Rubia.

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"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada." Clarice Lispector







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