terça-feira, 18 de novembro de 2008

Adocao, um ato de nobreza!


Dalva do blog: Interlúdio

Parte 4
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O MENINO QUE MORA DO OUTRO LADO DA RUA
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Para você menino, que mora na frente do internato, tem casa, flores e jardim
Pra mim, que vivo dentro da instituição, só tenho um corredor sem fim
Você é acordado com um beijo suave no rosto
Eu acordo com o som estridente da campainha do posto
Para você tem leite, yogurte e margarina
Para mim tem café e pão amanhecido na cantina
Depois do café você brinca com seu irmão
Eu pego o balde e a vassoura para limpar o chão
Você tem um quarto com videogame e computador em rede
Eu fico no quintal olhando as manchas na parede
Para você, sua mãe serve o almoço com bife, arroz e feijão
E eu, fico todos os dias na fila do bandejão
No domingo sua mãe escolhe uma roupa especial
Aqui no internato nada é de ninguém, tudo é sempre igual
Você deita em seu quarto quando está cansado
Eu fico sentado na escada porque meu quarto tem cadeado
O teu pai, quando sai e quando volta, sempre te abraça
Eu sempre invento partidas e chegada mas a tristeza não passa
Se você chora à noite sua mãe vem para te afagar
Se eu tenho pesadelo só tenho o travesseiro para abraçar
Para você tem dia das mães e dos pais sempre com festa
Para mim é só uma grande ausência que resta
Sua família leva você à escola, ao judô e para passear
A minha família, há 3 anos não vem me visitar
Você tem uma bela rotina de uma família em ação
Eu não tenho ninguém, sou filho da solidão
O seu maior desejo é o novo brinquedo da televisão
O meu maior sonho é ter uma família do coração.
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“Eu acho que agora vou ser adotada porque é a terceira vez
que a minha foto vai para os Estados Unidos e a Itália”
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(menina de 13 anos, mora em instituições desde os 11 anos)
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APELO DA MIGALHA
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Eu sou a migalha!
Neste mundo de paradoxos e desperdícios eu vivo desprezada.
Desdenham-se e abandonam-se, sem cogitarem do quanto me poderiam utilizar, a benefício
dos que nada têm.
O excesso das mesas fartas se fossem recolhidos atenderia a uma larga faixa de escassez.
Há, no mundo, vidas humanas que se alimentam de tão insignificante quota de pão, que um
outro animal de pequeno porte morreria de inanição.
Com as migalhas atiradas ao lixo poderia ser modificada a tormentosa paisagem de
inumeráveis criaturas.
Moedas de pequeno valor, tecidos de dimensão reduzida, calçados não utilizáveis, agasalhos
que não se usam, representando as migalhas da abundância indiferente, seriam suficientes
para socorrer milhões de homens necessitados...
O celeiro abarrotado é conseqüência dos grãos reunidos.
O oceano imensurável resulta da gota d'água insignificante.
O jardim formoso, exuberante, surge do pólen invisível.
A galáxia inabordável se origina da molécula infinitesimal.
Todas as coisas imponentes têm sua gênese na aglutinação das insignificantes.
Não espero resolver os problemas do mundo.
Anelo, apenas, por atender ao homem.
Não creio ser possível, de um momento, modificar a vida terrena.
Desejo, somente, contribuir de alguma forma, para que, um dia, a existência planetária seja
diferente, portanto, mais feliz.
Enquanto muitos adiam o momento de ajudar, porque não podem produzir em demasia ou não conseguem transformar a realidade atual de dor, tornando-a amena e ditosa, candidato-me a iniciar, agora, o ministério da solidariedade, oferecendo-me para servir.
Não te detenhas em justificativas paissadistas, excusando-te o amor ao próximo, o serviço do
bem, vem comigo; dá-me tua quota, a tua migalha desconsiderada.
Unindo-nos, lograremos a felicidade para todos, porque “fora da caridade não há
salvação”.
Eu sou a migalha!
Ajuda-me a tornar-me utilidade, realização.
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Scheilla, por Divaldo Franco. Terapêutica de Emergência. Salvador, Ed. Alvorada, 2003.
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“Não sei quando virá o amanhecer,
então abro todas as portas”.
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Emily Dickinson
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"Vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas."
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João Guimarães Rosa

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