domingo, 16 de novembro de 2008

Adocao, um ato de nobreza!



Elvira do blog: Sexta - Feira
Adocao

Casei em 1966, e 2 anos depois de casada, comecei a estranhar, não engravidar. Fomos a uma consulta e começámos a fazer exames e mais exames, para ver se conseguia-mos um filho. Então descobriu-se que eu tinha um adenoma, e salpingite crónica. Por causa do adenoma eu tinha que ser operada e as hipóteses de engravidar depois seriam boas. Na altura, inicio do 1969, eu estava em Moçambique, na antiga Lourenço Marques, hoje Maputo. Na cidade do Cabo havia um bom médico, segundo me disseram. Fui para lá e fui operada por ele. Disse-me que dentro de um ano eu seria mãe, já que depois da operação nada mo impedia. Mas o ano passou e nada. Começaram de novo os exames médicos. Entretanto vim para Portugal, e depois fui para Angola, onde estive dois anos e voltei de vez em 1975, com a independência.
Entretanto os novos exames davam agora que eu tinha desenvolvido uma endometriose. Naquela época não haviam os tratamentos que há agora, e os que já havia, só em clinicas particulares e muito caros. Resolvemos partir para a adopção. Inscrevi-me na Santa Casa da Misericordia para adopção. Preenchemos uma bateria de papéis e ficámos a aguardar. Não pedimos menino ou menina, loiro nem moreno.
Não pedimos bebé, mas uma criança, de pouca idade. Mandaram-nos aguardar. Estávamos em 1975.
Em Julho de 1980, continuávamos na lista de espera, e no dia 12 disseram-me no mini-mercado, que um senhor aqui de Stº André, tinha sido abandonado pela mulher, e como não podia criar o filho, ia levá-lo para a Stº Casa, para ser dado em adopção.
Perguntei nome da rua e o nº da porta, e fomos meu marido e eu, lá a casa. Falámos com o senhor, que nos disse que tinha uma menina com 5 anos que ia viver com a avó. O menino tinha 15 dias e a avó era velha e não tinha saúde para o criar, e ele precisava trabalhar, por isso o ia dar. Pedimos-lhe se ele ia no dia seguinte connosco ao advogado e à Segurança Social para tratar de tudo legalmente, e se podíamos trazer o bebé nesse dia. Ele disse que sim.

Mas a burocracia é muita, também por aqui. O meu Filho tinha 15 dias quando o pai
no-lo deu. Ele fê-lo no gabinete do tribunal, na presença de um advogado e de um representante da Segurança Social, tendo assinado todos os papéis que lhe pediram. Mas como declarou abandono da mãe, durante 90 dias teve que andar um anúncio no jornal pedindo a comparência da mãe biológica. Só depois foi marcada uma audiência para o juiz decretar oficialmente o abandono por parte da mãe, e passar o poder paternal, para o pai. Então o pai teve que assinar de novo todos os documentos. E depois o Juiz disse-lhe que ele tinha um ano para organizar a sua vida e decidir se podia ou não criar o filho. Resumindo o bebé veio viver connosco com 15 dias e só com 17 meses depois do pai biológico ser chamado de novo à presença do juiz e ter repetido tudo, é que oficialmente começou o processo de adopção.
E depois mais um ano de adaptação, e eu pergunto adaptação a quê se o bebé desde os 15 dias de idade que não conhecia mais ninguém que não fossemos nós.
E o Pedro que veio viver connosco no dia 13 de Julho de 1980 (nasceu a 28 de Junho de 1980) foi-nos dado oficialmente como filho pelo tribunal, numa audiência no dia 18 de Novembro de 1983. E segundo nos disseram na altura, 3,5 anos e meio até foi pouco tempo.
Há tempos ouvi uma assistente dizer, que há crianças que nunca ´são adoptadas, porque quando está a terminar o ano de habituação à nova família, os pais biológicos aparecem a buscar a criança. Levam-nas dois ou três dias e depois entregam-na de novo na institruição. E a lei exige de novo mais um ano de habituação à familia adoptante. E quando acaba esse ano a história repete-se. Isto devia ser proibido. É um tauma para a criança e para o casal que pretende adoptar.
O Pedro não teve até aos três anos e meio, abono de família, nem qualquer outra ajuda, pois oficialmente não era nosso filho.
Como já expliquei o Pedro tinha quando nasceu uma irmã a caminho dos 5 anos. Na verdade ele nasceu a 28 de Junho e ela faria 5 anos no dia 28 de Dezembro.Essa irmã foi viver com a avó paterna. Quando estava com 8 anos ela esteve muito mal. Uma anomalia qualquer no fígado que a obrigou a uma intervenção cirurgica. A menina chorava que queria ver o mano, e o pai com medo que acontecesse o pioor telefonou-nos a pedir se excessionalmente deixávamos que eles se vissem.
Nós dissemos que sim, e no dia que ela saiu do hospital, veio a minha casa. Foi uma situação caricata, porque a menina se abraçou a um bebé de uma vizinha, de quem eu tomava conta a beijá-lo e a chamá-lo mano. Ela nunca mais tinha visto o mano e na cabecinha dela, o mano era o bebé e não o Pedro que estava a caminho dos 4 anos.
Quando o Pedro, começou a crescer e lhe contámos a história da vida dele, contámos-lhe também que ele tinha uma mana. Ele nunca aceitou a história da adoção e rejeitou a irmã. Como rejeitou toda a sua história, e começou a ter problemas de comportamento, procurámos ajuda profissional, primeiro com psicólogos, depois com psiquiatras,mas não serviu de nada. Quando a Ana Luisa atingiu a maioridade, pediu-me se podia ver o irmão. Eu disse-lhe que sim, mas contei-lhe que ele rejeitava a história da vida dele e que se ele não quisesse recebê-la, não podia fazer nada.
Ela veio cá a casa e ele fechou-se no quarto, trancou a porta, e só de lá saíu depois que ela saíu lavada em lágrimas.
Nunca mais tentou vê-lo. Isto aconteceu há 15 anos. Quando o Pedro tinha 20 anos começou a namorar a Mónica. Nunca lhe contou que era filho adoptivo. Quando o ano passado compraram casa e decidiram viver juntos, eu e meu marido resolvemos contar à Mónica. Ele não gostou muito, mas fizemos-lhe compreender, que ele não podia começar uma nova vida, ocultando a sua história à mulher. Por várias razões. E acabou por compreender
Esta é a história do Pedro, e a nossa história. Pode publicá-la.

Um abraço
Fazendo parte da blogagem: Adocao, um ato de nobreza!

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