quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Adocao nao cura rejeicao


Luiz do blog: Tudo Para Todos Sobre Nada

ADOÇÃO NÃO CURA REJEIÇÃO

Minha mãe sempre me disse que eu tinha sido adotado, que não tinha saído da sua barriga.
Nada de ser trazido por cegonha ou outras historinhas.
Cresci ouvindo isto dela.
O fato nunca me deixou constrangido ou rebelde.
Engraçado, que apesar da genética dizer o contrário, tenho muitas caracteristicas que "herdei" do meu pai e da minha mãe.
Eu nunca fui uma pessoa que confiou cegamente ou visionáriamente nas pessoas.
Em algum momento sempre penso que em quem você mais confia vai aprontar uma pataguada que vai te decepcionar ou jogar por terra esta premissa confiável que se desenvolveu.
Sempre confio desconfiando.
Eu nunca fui uma pessoa faladora de todos os meus problemas.
Se conto algo, conto em partes para pessoas diferentes, para que não montem o quebra-cabeça.
Aliás o próprio blog é um grande quebra-cabeça. Não é por acaso que ele carrega no seu header este conjunto de peças.
Com algumas faltando é claro.
No último final de semana, passei por um dos piores momentos físicos da minha vida.
Descobri que tenho uma pedrinha de no máximo 3mm no meu rim e que resolveu se mover.
Não sair.
Apenas se mover.
Acordei na madrugada de sábado para domingo, com a dor (que muitos dizem ser pior ou comparável ao parto) me martirizando.
Com todo mal momento merece uma das Leis de Murphy, meu celular resolveu não encontrar a rede local para que eu pudesse ligar para alguém.
Dez horas depois, consegui falar com o minha ex-mulher que me levou para o hospital para receber medicamentos, fazer tomografia e descobrir que vou ter que conviver cronicamente com isto.
A família da minha mãe, pelo menos na parte que tive mais contato na época quando minha mãe ficou doente (leia mais em Morte), aproveitou para demonstrar sua insatisfação comigo, transformando-me no cálculo renal da relação familiar.
A questão da adoção não envolve apenas quem adota, mas também aqueles que participam do circulo familiar.
Pensando no que ia escrever sobre adoção, ficou bem claro para mim, neste ultimo fim de semana, que apesar de não ser traumatizado com o fato de ter sido rejeitado pela minha mãe biológica, de alguma forma isto moldou meu comportamento em relação aos outros.
Se pudesse, teria superado a dor sozinho, sem ajuda de ninguém.
Claro, que este tipo de atitude remete ao inicio de tudo: a rejeição.
Normalmente, antes de ser rejeitado, eu rejeito.
Apesar de todo amor e carinho que recebi dos meus pais, após a morte deles ainda não consegui encontrar pessoas que possam substituir esta lacuna.
Acho que tento compensar de alguma forma isto na relação com meus filhos.
Talvez em alguma momento eu encontre alguém que consegui recuperar esta (falta de) confiança nas pessoas.
A maioria das pessoas olha o problema sem focar na causa.
O problema não está nas milhares de crianças sem lar.
Está nas milhares de crianças rejeitadas que vão crescer desconfiadas na humanidade.
Adotar só resolve um problema de alocação.
O estrago já foi feito e apesar de todo amor e atenção que possam ser dispensados, eu e muitos outros vamos carregar isto conosco.

Fazendo parte da blogagem: Adocao, um ato de nobreza!

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