terça-feira, 11 de novembro de 2008

Adocao, plantar dedicacao e colher amor



Ronaldo do blog: Qualiblog

Para explicar a razão do título vou contar uma história. Depois que lerem, entenderão.

Esta história começa no final da década de 60. Uma criança nasceu bastante debilitada, na Santa Casa de Misericórdia, um hospital administrado por freiras. Talvez tenha sido essa a sua sorte, pois certamente foi a misericórdia divina que colocou um anjo no caminho dessa criança…

Nascido já órfã de pai, que pelo que consta morrera enquanto a mãe estava grávida, podemos achar que o início da vida para esse bebezinho começou bem ruim. Mas não o bastante, pois em poucos dias sua mãe também faleceu, fraca que estava pelos embates da vida na falta do marido. O bebê não estava ainda fora de perigo, visto que permaneceram, ele e a mãe, internados no hospital após o parto. Com a partida da mãe, ele passou a ter por irmãos os outros bebês da enfermaria e por mãe as enfermeiras e as freiras, que se compadeciam do triste destino daquela criança, pouco comum. Dentre elas uma enfermeira se desdobrava em cuidados, alegrando-se por cada sinal de melhora que o bebê apresentava. Seus cuidados constantes e carinho certamente foram um bálsamo para aquele inocente que ignorava seu destino e que, por agradecimento, podia apenas apertar na pequena mãozinha o dedo da sua protetora. Ela, claro, tinha outros afazeres como enfermeira da ala infantil (hoje chamam de neo-natal, acho que fica mais chique) e não podia dar tanta atenção a uma única criança, mas aos poucos, coisa de destino talvez, ela se apegava mais e mais àquele bebê…

A Madre Superiora era quem dirigia o hospital, uma freira austera, exigente, mas muito bondosa. Ao ver a enfermeira com o orfãozinho no colo se preocupava, pois em sua experiência de idosa percebia que aquele carinho já não era profissional. Ceci, a enfermeira, se apegava demais a uma criança que em breve deveria deixar o hospital, pois seu drama já era conhecido por algumas pessoas e procuravam uma família que se interessasse em adotar o pequeno.

Sabendo disso, dias depois, após se aconselhar com um advogado seu amigo, Ceci fez a proposta à Madre: Queria adotar o garoto. A Madre lhe alertou que, por ser solteira, não poderia adotá-lo, mas que poderia obter a guarda do menino com a ajuda de algumas pessoas. Ceci aceitou que fosse assim. Mas havia um problema. Talvez não seria possível manter-se no emprego, já que o menino lhe tomaria muito tempo. Como Ceci morava com seus pais, não viu aí um grande entrave. Algum tempo depois viu que a carreira de enfermeira não era compatível com a de mãe e deixou o hospital. Enfrentou problemas em casa, pois sua mãe já não tinha paciência para ter crianças pequenas ali. Além disso, chegaram aos seus ouvidos comentários maldosos sobre a filha que estava com um bebê e não era casada…

Com o tempo, Ceci acabou por alugar uma casinha e ir para lá com o seu “filho do coração”, como se referia ao pequeno. Manteve-se costurando para fora e fazendo pequenos serviços de enfermagem. Não tinha mais tempo para ela própria, batalhando o sustento dos dois, cuidando do garoto… Uma colega a convidou para um trabalho diferente: ser enfermeira particular de uma senhora bem idosa, noutra cidade, de família muito rica. Ceci somente aceitou após se certificar que poderia levar o filho, coisa que a família da Sra. Risoleta não objetou, já que a casa era imensa, teria espaço para um menino de três anos e era difícil encontrar uma enfermeira com tão excelentes referências e que aceitava morar no emprego.

Com a vida que levava, praticamente vinte e quatro horas à disposição da idosa matriarca daquela família, seu pouco tempo disponível ocupava em cuidar do filho, raramente saía. Recusou namoros, alguns até compensadores. Trabalhou muitos anos para aquela família, que tratava a ela e seu filho como se fossem de casa. D. Risoleta, com o tempo, considerava o “bambino” quase como um de seus netos.

Quando o seu filho já estava com dez, onze anos, Ceci reencontrou um antigo conhecido, o Sr. Geraldo. Acabaram casando e ela deixou aquele emprego para partir para uma nova vida, simples, com os problemas e dificuldades de uma família de classe baixa, mas ela teria um lar para chamar de seu. No fundo, realizava um desejo do filho, que por muitas vezes queixara-se de não ter um pai… O resto é outra história…

O filho adotivo da enfermeira Ceci sou eu. Quando adulto é que soube a verdadeira dimensão do amor de minha mãe, que abdicou de tantas, tantas coisas na vida, até da vida que poderia ter tido, para cuidar de mim e me tornar alguém. E hoje, um dos meus projetos de vida é adotar uma criança também. Fazer por outra pessoa o que foi feito por mim. Ainda não chegou o momento de realizar esse sonho, mas já preparo meu filho para receber um dia um irmãozinho ou irmãzinha “do coração”. O destino é uma coisa engraçada… Minha esposa também é filha adotiva, e por isso mesmo sabemos que não teremos problema algum em receber em nossa família uma criança que não foi gerada por nós, independente de raça, aparência, do que for, ela será tão amada como nosso filho é, e lhe dedicaremos tudo o que pais devem dedicar aos filhos. Às vezes ficamos conversando e imaginando como seria ter em casa mais uma criança, principalmente agora, que o Nathan logo será um adolescente.

Posso garantir, por experiência própria, que ninguém deve ter receio em adotar uma criança. Dando-lhe muito amor, carinho, respeito, educação, ela saberá retribuir tanto quanto um filho que carrega o seu DNA.

Fazendo parte da blogagem: Adocao, um ato de nobreza!

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