quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Adocao, uma história de amor


Sonia Horn do blog: O Cantinho da Borboleta Azul

Adoção, uma história de amor


Talvez faça parte da natureza das meninas e certamente as de minha geração, desejarem ser mães um dia. Eu não fugia à regra. Lembro-me adolescente, idealizando os nomes dos meus futuros filhos e imaginando como eles seriam, quem seriam, se seriam menina ou menino, quantos seriam enfim. Em 1991 eu e meu amado nos casamos. Decidimos não engravidarmos no primeiro ano de casamento para curtirmos a vida a dois e no segundo ano de casados programamos a nossa primeira gravidez. E assim aconteceu: em dezembro de 1992, engravidamos do Samuel. E em 1993, tornei-me mãe de um lindo menino! Eu e meu marido sempre conversávamos sobre o futuro e um dia lhe disse que eu gostaria de adotar uma criança, idéia que ele abraçou por completo. Imaginávamos a princípio termos 3 filhos, dois biológicos e um do coração. Porém, mudamos o percurso da história, por que o parto de Samuel foi muito difícil. Tanto ele quanto eu sofremos e tivemos complicações, e eu fiquei muito receosa de engravidar novamente.
Samuel foi crescendo e em um determinado momento, ele só falava em ganhar um irmão ou irmã para brincar com ele. Neste período, eu fazia especialização na faculdade e quando terminei o curso, fizemos nossa inscrição para adotarmos uma criança. Isto foi em 2001/2002.**Uma observação: é interessante acrescentar que quando se está fora do contexto dos caminhos até a adoção, imaginamos que será super fácil realizá-la de modo legal, já que todos os dias sai no jornal que uma criança foi abandonada em tal lugar, ouvimos falar dos orfanatos cheios de crianças... Porém, na vida real, a realidade é tão difícil para o lado da criança que espera ser adotada quanto para os futuros pais que desejam ansiosamente adotá-las. E esta dificuldade vem como um balde de água fria, o que no meu caso não foi diferente.

Após a inscrição, somente fui chamada para o curso de habilitação um ano depois. Em 2003, fiz o tal curso, por sinal, um curso relevante, pois nós conhecemos outros casais ou pessoas solteiras que estavam neste mesmo processo. Tivemos 3 encontros e estas reuniões eram organizadas por uma psicóloga e assistente social e eu imagino que a todo momento estávamos sendo avaliados se éramos aptos/habilitados a sermos bons pais. Depois destes encontros em grupo, tivemos encontros individuais ou com os casais somente. Eu fui entrevistada por uma psicóloga e meu marido ficou do lado de fora da sala. Depois, meu marido foi entrevistado e eu fiquei esperando-o fora da sala. Meses depois, uma assistente social esteve em nossa casa para conhecer o espaço que habitávamos e nos entrevistar mais uma vez. De todos os encontros e entrevistas, a assistente social organizou nosso estudo social, uma espécie de histórico sobre nossa família.

Lembro-me que para receber a habilitação, demorou mais um ano! Vocês acreditam nisso??? Pois é, aconteceu comigo e com todos os que estavam participando da dinâmica. Lembro-me também que daquele grupo, nem todos foram habilitados e sinceramente até hoje não sei quais são os critérios de avaliação para estarmos aptos à adotarmos. Gostaria de dizer que acho muito válido sermos avaliados sim, porém o grande tormento neste processo é a morosidade do mesmo. Por que demora tanto tempo, meu Deus?

O sistema precisa mudar, precisa de mais agilidade! As crianças estão crescendo nos abrigos.....

***Outra observação: acredito que o processo para habilitação tenha mudado, mas quando fomos habilitados, recebemos um certifcado assinado pelo Doutor Siro Darlan e uma lista de abrigos onde podíamos visitar para quem sabe, 'sermos escolhidos' por alguma criança. E foi o que fizemos por muitos finais de semana. Visitamos muitos abrigos, nos apaixonamos por tantas crianças.... Pena não podermos trazer todas para casa pois alguém que tenha carinho e compaixão pelo seu semelhante, não agüenta ver tantas crianças abandonadas, carentes de um olhar amigo, um gesto carinhoso, precisando de atenção e amor. Conhecemos diversos abrigos no RJ e de vez em quando ainda visitamos um ou outro para brincarmos com as crianças. Nos abrigos, os funcionários evitam dizer quais crianças estão para adoção, por que aliás, esta é uma outra grande decepção: antes eu pensava... se estas crianças estão abrigadas, por que não estão para adoção???? Ora, por que simplesmente a grande maioria têm um pai, uma mãe, uma tia, que apesar de não ficarem com elas, não aparecem para darem carinho a seus fihos mas também não os doam para adoção. Existem exceçoes, é claro. Há crianças que estão lá por que seus pais não têm condições de criá-lo/a por inúmeras razões.

Continuando.... Em janeiro de 2004 recebemos nossa tão sonhada habilitação - ufa- finalmente, pensei! Agora será rápido. Neste período, eu participei de um grupo de adoção pela internet onde pessoas de todo Brasil davam suporte emocional e ajudavam a localizar nos abrigos quais crianças estavam para serem adotadas. É importante enfatizar que adoção para mim tem de ser legal, pois fiho é para sempre e neste Brasil de contrastes, existe de tudo... lembro-me uma vez, eu de férias na Paraíba, encontrava-me num salão de cabeleireiro, quando a moça que me atendia notou meu sotaque carioca e me perguntou se eu não gostaria de 'levar' uma criança para mim pois havia nascido naquela semana e a mãe já tinha 5 filhos! Eu fiquei perplexa.... pensei: "será que está no meu semblante que eu estou querendo adotar uma criança?" Porém expliquei a ela que o que ela me pedia para fazer, por mais tentador que fosse, era um crime. E eu jamais adotaria daquela maneira. Lamentei pelo bebê que já nascia tão sem futuro :-( e sem perspectivas.

Em julho de 2004 nós queríamos viajar para o nordeste de férias - adoro o nordeste! e como tínhamos muitas milhas, podia escolher o destino... pensamos em São Luís pois ainda não conhecemos, Fortaleza, Recife, João Pessoa que é para onde vamos mais freqüentemente, e no final decidimos por Natal, pois havia ido lá somente uma vez e a impressão que havia me deixado foi de uma cidade muito linda e acolhedora. Era a semana do meu aniversário e voltaria justamente neste dia. Uns dias após termos trocados as milhas para as passagens, recebo um e-mail de uma amiga virtual daquele grupo de apoio, alguém que se tornaria nossa anja! Ela dizia no e-mail que sabia de uma menininha que estava pronta para adoção e não havia naquele momento nenhuma família pretendendo adotá-la. Era uma menina que havia ficado muito doentinha, mas já estava com alta do hospital e pronta para ser feliz. Ela descreveu a menina mais ou menos e me disse que como estava habilitada no RJ talvez tivesse a chance de adotá-la. E ela terminou o e-mail assim: "o problema, Sonia, é que a menina se encontra em Natal... não sei se você iria poder, já que RJ até Natal fica bem longe..." Eu quase que tive 'um treco'. Telefonei para o meu marido imediatamente e ele quase teve um treco junto comigo. E foi assim que tudo aconteceu. Procurei tanto por aqui. Esperei tanto. E nossa filha estava longe, em Natal. Lembro como se fosse hoje quando chegamos ao abrigo onde ela se encontrava. A assistente social nos trouxe Marcela e ela imediatamente sorriu para nós e tocou a minha perna. Nossas férias se transformaram em descobertas e adaptações. Saímos com Marcela todos os dias que estivemos lá e ao mesmo tempo íamos todos os dias no Juizado para agilizarmos os papéis. Mesmo sendo habilitada no RJ, nós tivemos de fazer a habilitação lá também e todo o processo demorou um ano (2005) até que nossa filha passasse a ter nosso sobrenome. O juizado de Natal enviava as documentações para o juizado do RJ e aqui nós resolvemos tudo.

Num de nossos passeios, fomos a um shoppping em Natal pois queria comprar algumas roupas para ela viajar para o RJ. Meu marido ficou me esperando fora da loja com ela no colo, quando ela de repente, olhou para mim e apontou: "mainha!" Gente, vocês podem imaginar a minha emoção naquele momento? Ali eu me tornei mãe novamente. Eu e meu marido choramos de emoção e Samuel, nosso filho estava maravilhado com a irmã que ganhava. No dia de meu aniversário, eu ganhei uma filha de presente, pois foi no dia 2 de agosto de 2004, o dia que o juiz me deu a guarda provisória e a autorização para que ela viajasse com a gente. Aliás, esta história da guarda parece até novela: a autorização não chegou a tempo de nosso vôo e depois de conversar muito na Varig ( saudades da Varig!!!), a atendente foi muito solidária comigo e conseguiu me encaixar num outro vôo para o RJ, mais tarde. Os aviões lotados.... Portanto, Niels e Samuel viajaram primeiro e nós, eu e Marcela, voltamos num vôo mais tarde pois sem os documentos corretos não teríamos embarcado. E nós duas ainda atrasamos o vôo, todos nos esperavam e eu entrei meio sem graça no avião e não agüentava de cansaço e alegria: olhei para a aeromoça e contei-lhe: "eu acabei de adotar esta menininha linda, ela é minha filha agora. Estava esperando a autorização com a guarda para poder viajar!" E os passageiros que estavam por perto, me parabenizaram. A aeromoça também... Eu precisava dizer a alguém que aquele momento era muito especial para mim. Quando cheguei no aeroporto, minha família em peso nos esperava, afinal, todos queriam conhecer a nossa filha tão sonhada. Na casa de minha mãe houve uma festa de aniversário para mim e para Marcela, que na época tinha 3 anos e 3 meses. Era uma menina séria, totalmente o oposto do que é hoje: nossa Marcela é alegre, meiga demais, amiga, super filha, carinhosa, inteligente e é linda!! Posso afirmar a quem tiver dúvidas, medos, incertezas que siga adiante.
Mas não veja a adoção como caridade! NÃO adote se pensar em caridade! Caridade podemos fazer sempre com todos os que precisam. Mas adoção é um ato de amor. É para todo sempre.

Ao longo desta semana, darei algumas dicas de sites muito úteis para aqueles que desejam ou estão neste longo processo que é gerar um filho do coração no Brasil, por meios legais. Também abordarei outras questões relacionadas a este processo. Nossa princesinha hoje está com 7 anos. Já está lendo, adora matemática, ouvir histórias, dançar, viajar, viver e junto com Samuel formam o nosso arco-íris na família. A relação dos dois não poderia ser melhor. É como se sempre tivesse existido. Um é super unido com o outro. Os dois são verdadeiros irmãos.

Perdoe-me pelo texto longo e se eu não consegui expressar o que sinto pois este assunto mexe verdadeiramente comigo.

Tenham todos uma ótima blogagem!
Fazendo parte da blogagem: Adocao, um ato de nobreza!

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