domingo, 16 de novembro de 2008

Enfim...


Loba do blog: Loba


Sou uma adotada e adotante. Não da forma legal e oficial. Mas há vários tipos de adoções.

Aos seis anos, vi-me órfã. Primeiro de mãe, depois de pai. Inicialmente, eu e meus irmãos fomos separados. Cada um foi levado para a casa de um tio. Foi uma separação traumática. Foram convivências traumáticas. Em menos de dois anos estávamos os quatro na casa de nossos avós maternos. E fomos criados por eles. Apesar de todas as dificuldades, fomos criados como se fôssemos os filhos mais novos.

Minha história é normal. Tivemos todos os tipos de problemas de uma família normal. Superamos todos eles, também como uma família normal. E, como era de se esperar, somos os quatro extremamente sensíveis aos problemas dos menores abandonados. Além de termos seguidos passos parecidos com os de nossos avós, nos envolvemos com associações que tiram crianças das ruas e as reintegram à familia e à sociedade. Somos "padrinhos" de alguns, visitamos constantemente as famílias e cuidamos para que vivam com dignidade.

Quando optei por trazer depoimentos, minha intenção era mostrar as variadas motivações que nos tornam ou não adotantes. Na minha lida com as questões sociais eu já tinha percebido, mas nunca havia constatado com dados concretos. Eis as minhas conclusões após ouvir e ler várias pessoas, algumas delas com depoimentos publicados nos posts anteriores:

- quando se é adotado, legalmente ou não, têm-se uma maior disposição e disponibilidade para adotar;
- é mais comum a adoção oficiosa e entre parentes, especialmente nas classes mais pobres;
- também nas classes mais pobres, ou pessoas delas advindas, é mais comum “pegar” uma criança para criar, independente de quem sejam os pais desta criança ou da legalização do ato;
- nas demais classes há grande preocupação com a legalidade do ato, com a faixa etária da criança, às vezes com sua hereditariedade e os motivos que levam à adoção são, em sua maioria, mais voltados para as necessidades pessoais dos adotantes.

É claro que estas conclusões são minhas. Não foi uma pesquisa nem tive a intenção de mostrar qualquer perfil. Mas reforçou a minha impressão de que ainda existe pouca sensibilidade para a questão social em nosso país.

Espero, sinceramente, que esta enorme, trabalhosa e bela iniciativa de Dácio Jaegger e Geórgia Aegerter possa mudar, ainda que minimamente, este cenário. E como participante desta blogagem coletiva, agradeço aos dois pela oportunidade de também me colocar dentro da questão.
Fazendo parte da blogagem: Adocao, um ato de nobreza!

Caso nao queira seu post aqui, por favor fazer contato. Obrigada.