quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Adocao, um assunto em discussao



Lino Resende do blog: Lino Resende

Fui privilegiado com filhos, mas tenho amigos e familiares que buscaram tê-los e não o conseguindo, decidiram adotar crianças. E tenho amigos que, com filhos criados, fizeram este mesmo caminho. Tanto em um, quanto no outro caso, isso me provoca uma profunda admiração, sobretudo por estes conhecidos não fazerem o caminho tradicional, de seleção por cor, mas por adotarem a diversidade. Cito os exemplos porque eles divergem dos números sobre adoção no Brasil. Enquanto um amigo, caucasianos ele e a esposa, adotaram uma criança negra, que faz a alegria da casa e de quem a frequenta, a demanda por adoção no país é por crianças brancas, recém nascidas e meninas. Quem não se enquadra nestes quesitos, já começa com uma grande desvantagem. Os números só ressaltam a coragem do meu amigo.

Embora - como disse - com casos na família e entre amigos, nunca havia me debruçado sobre a questão. Com a blogagem - promovida pelo Dácio e pela Geórgia, e cujos participantes podem ser vistos aqui - procurei ler sobre o assunto e confesso que me surpreendi com os números e com uma outra faceta, que já conhecia, que é a chamada adoção ilegal. Nela, famílias conseguem crianças com terceiros, sem cumprir as formalidades legais, registrando-as como filhos. As informações dizem que este tipo de adoção continua sendo muito comum em todo o país.

Se, de um lado, há muita gente querendo adotar e, do outro, crianças disponíveis para adoção, o perfil de exigência faz com que muitos cresçam sem família - conheço pelo menos um caso e que, hoje, são pessoas bem sucedidas. Aqui, de certa forma, prevalece o preconceito, pois a maioria não quer crianças a partir de uma determinada idade e nem aquelas que não se enquadram no padrão de brancura procurada por uma boa parte da sociedade brasileira.

Pelo que li, há toda uma discussão entre a adoção legal, sancionada pela Justiça, e aquela outra, dita informal por alguns, mas classificada como ilegal por outros. Será que este tipo de adoção deve ser banido? Será que, para a família e para a criança, este é um processo ruim? Será que a lei está correta e a prática, errada? Acho que são questões que têm de ser postas, uma vez que são reais, ocorrem no dia a dia e, na maioria das vezes, com casos que se tornam emblemáticos. Será que é mesmo preciso o aval da justiça para se adotar alguém?

Conheço um caso emblemático. Em uma família com muitos filhos, todos estudantes, eles acabaram arranjando um amigo de escola que tinha perdido os pais em um acidente. Era já adolescente e, como se enturmou com os estudantes, passou a frequentar a casa da família. A proximidade acabou aumentando e ele, na verdade, foi ficando mais e mais tempo, o que o levou, no final, a morar com a família. Passou, então, a fazer parte dela, transformando-se no décimo-terceiro filho do casal, que era e é pobre, mas tinha muito orgulho de poder acolher o menino que era amigo de seus filhos.

Hoje, esta criança é um adulto. Com o apoio da família, estudou e acabou se transformando em um profissional conhecido na sua área. Casou-se, teve filhos e estes são considerados mais alguns dos netos que o casal tem. Agora, como antes, ele não chama de pai ou mãe, mas considera o casal que o acolheu como se o fossem e os seus filhos, como irmãos. Ele ganhou 12 irmãos e estes, ganharam mais um.

O que fico pensando, ao refletir sobre leis e exigências para a adoção, é o que teria acontecido se a família buscasse se enquadrar em todos os aspectos legais. Será que conseguiria adotá-lo? Afinal, já tinha 12 outros filhos para criar. O que este exemplo me diz - e ele é muito próximo a mim, pois os filhos de quem foi adotado são, hoje, meus sobrinhos - é que a adoção, antes de tudo, é um gesto de amor, de solidariedade e não se prende ao processo legal.

Este processo, aliás, pode até ser preenchido, mas antes é preciso olhar a família e, nela, a criança, vendo que pode ganhar um lar, uma família. E isso não se enquadra em dispositivos legais, mas na disposição pessoal de cada um, de dar-se e de receber. Em alguns casos, de se completar, preenchendo o lugar que a biologia não lhe permitiu. Em outros, mostrando a disposição de acolher quem precisa. Assim, temos de aplaudir quem toma tais iniciativas, e não criticar por não haver adoções suficientes para todas as crianças disponíveis.

Temos de ver a adoção, no meu entender, não como um processo legal, mas como algo de fundo afetivo, de alguém que se dispõe a dar-se e a receber outrem que não é biologicamente ligado a ele, transformando-a em um membro de sua família e lhe dando guarida. Será isso garantia de acerto? Ninguém pode dizer, mas se olharmos a questão do lado afetivo, não como um processo, teremos, acredito, mais possibilidade de que dê certo.

E falo isso olhando os exemplos que citei. Todos eles foram vitoriosos. Hoje, alguns dos adotados são adultos, caminhando para constituir suas famílias. Outros, já o fizeram e alguns estão, ainda, na adolescência, mas se sentem pertencendo a algo que lhes deu acolhida e lhes dá suporte para caminhar adiante.

Fazendo parte da blogagem: Adocao, um ato de nobreza!

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