terça-feira, 18 de novembro de 2008

Adocao, um ato de nobreza!


Dalva do blog: Interlúdio

Parte 5


LAÇOS DE SANGUE X LAÇOS DE TERNURA:
O AMOR É CONSTRUÍDO
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(...) Acredito que todos nós possuímos as chaves de todas as portas, ou seja, temos condição de controlar o nosso destino se tivermos consciência de nós mesmos, de nossos limites e do mundo. As pessoas mais conscientes são aquelas que tem o seu "chaveiro do mundo" na mão: pessoas empáticas que tem conhecimento do outro, do mundo, e de si mesmas. Pessoas que querem ser contingentes e não somente passar pela vida. Outras pessoas, que por diversas circunstâncias ficaram sem algumas chaves, tentam encontrá-las, e como fazemos com aqueles chaveiros que emitem sons, podem assobiar para encontrar o chaveiro perdido; outros podem fazer cópia das chaves de outros (copiam o modelo de outros para si próprios); às vezes, experimentam a chave de outra pessoa e não dá certo e, então, essas pessoas mandam limar, ajustar (ajustam o modelo de outros para si próprios), e com um pouco de trabalho e esperança, sempre encontram novas portas e a chave certa!
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(...) Em todos os relacionamentos humanos é preciso estar constantemente ajustando-se à relação, que é sempre dinâmica. Além disso, o que é bom para uma pessoa pode não servir para outra pessoa. Não existem receitas de "relação perfeita", nem receita de felicidade. Talvez seja válido ter uma atitude otimista em relação à vida, uma atitude de esperança, de novas possibilidade, como bem disse a poetisa Helena Kolody, "para quem viaja ao encontro do sol, é sempre madrugada".
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(...) Para que isso possa acontecer verdadeiramente, a grande chave é o auto-conhecimento, a consciência de si mesmo, de nossos limites, de nossas possibilidades. Desta forma, é muito mais fácil nós percebermos até aonde uma pessoa é capaz de caminhar e até onde e quais caminhos nós teremos condições de percorrer. Às vezes, cada um deve ceder um pouco em função do outro. É como relata uma história no Talmud sobre um Rei que tinha um filho que havia se separado do seu pai. O rei mandou um mensageiro dizer ao filho: "Retorne a seu pai". O filho respondeu: "Não posso". E então, após refletir sobre a relação, o pai mandou o mensageiro retornar e dizer ao filho: "Venha o mais perto que você puder e eu irei até você o resto do caminho".
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O NOSSO ENCONTRO
(Depoimento)
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"O Arturo nasceu com 24 horas; era sua idade quando o adotei. Com ele realizei o sonho de ser mãe e vivi todas as angústias e alegrias de uma mãe com seu primeiro filho.
Agora tenho também o Valdomiro, que nasceu aos 8 anos, a idade em que recebi a sua guarda. Ainda estamos "nos conhecendo". Para o adulto é mais fácil compreender este processo. Ter uma identidade é fundamental na estrutura da personalidade humana; na adoção tardia tudo acontece tão rápido para a criança, que se torna assustador, percebo isto nas atitudes ansiosas do meu filho.
As crianças quando estão na instituição sonham com uma mãe e com uma família: a mãe é uma "fada", a família é uma "ilha de fantasias". Um filho sente dificuldades em aceitar que a mãe dá limites e que, no convívio familiar, também existem regras.
A experiência com o meu primeiro filho me deu sensibilidade para compreender este filho, que nasceu aos 8 anos. Como o bebê exercitei a paciência, a tolerância e a compreensão, tão necessárias para proporcionar-me segurança, requisito importante na adoção da criança maior, geralmente ela é muito insegura.
Com o meu segundo filho, não tenho acordado à noite para dar chazinhos ou trocar fraldas. O dia-a-dia é que constitui-se em um verdadeiro desafio: dando limites, impondo rotinas, além de repetir várias vezes nos momentos de teimosia (ou insegurança), "gosto muito de você, não vou levar você de volta para aquela casa, mas deve aceitar que isto é o melhor para uma criança e precisa aprender a me obedecer". São energias investidas de outra forma. A disponibilidade para aceitar uma criança que "se sentirá meu filho" e a esperança de que conseguiremos aprofundar o afeto, é que me dão coragem para persistir. Nos momentos em que nos abraçamos e quando estou contando historinhas para meu filho dormir, compreendo que não foi o acaso quem provocou o nosso encontro, mas o meu imenso desejo de ter mais um filho!"
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Marinalva de Sena Brandão, Médica-Pediatra, Presidente do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de João Pessoa e Pediatra da CEJA-PB, mãe de Arturo e de Valdomiro, 9 anos (adotado aos 8 anos). Residem em João Pessoa-PB.
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AGORA EU TENHO UMA FAMÍLIA
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"Eu axo a adoção muito linda. Que os meninos e as meninas também gostam de uma mãe e um pai. Eles gostam também, e quem não tem mãe e pai é uma vida muito triste. Minha vida está muito boa! Eu já cei ler e gosto muito da minha mãe e de minha casa.
Como a minha vida está boa! Gosto da minha escola e da minha tia da escola. Agora tenho uma vida. Minha vida era muito ruim e agora mudou. A minha vida mudou agora. Eu tenho uma mãe! Eu fui o menino adotivo. Agora eu tenho uma mãe e vou ter um pai. Eu já tenho um tio e uma vovó e um avô e um primo. Eu não tinha essa vida tão boa e também agora eu tenho uma família."
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Valdomiro Teixeira Lopes tem 9 anos e foi adotado aos 8 anos de idade por Marinalva de Sena Brandão, Valdomiro escolheu ser chamado de Valdomiro Rafael de Sena Brandão.
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Créditos dos textos: textos extraídos de WEBER, Lídia. Laços de ternura. 2.ed. Curitiba: Juruá Ed, 1999.

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