quarta-feira, 19 de novembro de 2008

adocao


Sueli do blog: Desabafo de mae

Adocao


Você já pensou em adotar uma criança em algum momento da sua vida? Essa é uma das curiosidades que tenho quando penso em adoção: quem , quando e porquê pensou em adotar uma criança? Questiono isso porque penso até que ponto a adoção faz parte da nossa vida social? Será que adoção é uma realidade apenas para os pais adotivos ou ela também é um tema que já faz parte da vida de cada um de nós?

Você, que não se tornou pai adotivo, sente o quê quando pensa em adotar alguém? Confesso que algumas dessas perguntas já passaram pela minha cabeça e, na época, o meu pensar era: se eu não conseguir ter filho, vou ter coragem de adotar? Responda-me, antes de mais nada: você nunca pensou isso?

Eu não tenho a mínima idéia de quantas mulheres colocaram essa dúvida diante da sua adolescência ou da época em que sonhava em ser mãe, mas o fato é de que soa bastante preconceituoso o uso da palavra "coragem" na opção pela adoção, ou não? Talvez, realmente seja preconceituoso, mas será que essa não é uma dúvida humana? Será que a maioria das mulheres não questionou isso um dia? Não sei, mas foi justamente essa questão que já passou pela minha cabeça. E quando lembro disso me questiono, então, sou preconceituosa?

E sofro, sofro muito com isso porque ninguém quer ser taxado de preconceituoso quando busca compreender a diversidade ou aquilo que não faz parte da sua vida. Eu não tenho ninguém da minha família que é adotivo. Eu não vivi essa experiência. Então, eu lhe pergunto quando usei a palavra "coragem" na escolha pela adoção é preconceito meu? Ou será mais uma prova de que adoção é um tema que precisa ser inserido na sociedade para que ele faça parte da vida de cada um de nós.

Eu acredito que a razão disso tudo está no fato de apenas 10% das 80 mil crianças e adolescentes em abrigos no Brasil estarem aptas para adoção, já que o processo só pode ocorrer nos casos em que os pais já tiverem morrido ou sejam desconhecidos, tiverem sido destituídos do poder familiar ou concordar que os filhos sejam adotados. Essa condição é extremamente necessária para bem da criança, mas ainda assim muitas das crianças, que estão entre os 10% que podem ser adotados não conseguem sair dos abrigos pela burocracia ou pela seleção dos pais adotivos. É errado um pai ou mãe querer determinadas características do filho que será adotado?

Não sei. Nunca passei por isso. Eu só questionei se teria coragem e já me sinto pequena quando ouço da minha amiga Su que ela morre de vontade de adotar uma criança. Ou quando me emociono ao ler o desabafo da Priscila Amaral. Ou , melhor, quando descubro o cordão umbilical na história da Valéria Leandro, que por muito tempo me ensinou (ufa!) que era normal o que eu sentia e que isso não tinha nada a ver com preconceito.

Apesar da falta de política de pública para facilitar o processo de adoção no nosso País, o que fortalece a falta de cultura de adoção na nossa sociedade, essas mulheres são sim raras de se encontrar. São mães admiradas pelas outras mães porque, além da luta de enfrentar a papelada do governo, elas também têm que enfrentar a nós mesmos, aqueles que não sabem lidar com novo e aqueles que realmente rejeitam o diferente.

Mas quantas outras mulheres também são tão raras como elas? Será mesmo que a maioria olha para mãe e filho de cores diferentes, por exemplo, porque recrimina a adoção ou simplesmente porque admira aquela família ou porque está fascinada pelo novo? Tenho a sensação de que assim como muitos não sabem lidar com pais adotivos, muitos pais adotivos não sabem lidar com as diferentes pessoas que têm atitudes parecidas...

Posso continuar divagando por horas sobre adoção, mas tudo que eu escrever aqui não retrata nem parte da realidade porque, infelizmente, a adoção ainda é bastante distante da realidade da maioria dos brasileiros. Eu só a descobri na minha vida quando tornei fã da Valéria Leandro, que escreve por meses no Desabafo de Mãe. Ela com seus desabafos me alertou a olhar para aquilo que um dia, ainda adolescente, me fez pensar se eu não conseguir engravidar terei coragem de adotar? E me mostrou o quanto a gravidez da adoção é tão real quanto a gravidez da barriga. Eu ainda aprendi o quanto, apesar de únicas, nossas etapas da maternidade continuam sendo sempre as mesmas. Hoje acho que seria muito fácil eu encarar a adoção como uma decisão de ter, ou não, um filho. Mas, para isso, precisei conhecer a Valéria e espero que milhões de nós tenham bilhões de Valérias para nos ensinar a olhar o mundo assim como ele é, cheio de cores, perfumes, alegrias, dores e com algo muito comum entre esses diferentes!

PS: esse post foi escrito a pedido da Georgia, do Saia Justa, que promove uma blogagem coletiva sobre Adoção até amanhã.




Fazendo parte da blogagem: Adocao, um ato de nobreza!

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